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quarta-feira, 24 de abril de 2013

O CANSAÇO DA VIDA


   Em quase todos os dias de minha vida penso no desejo de me aposentar. A cada manhã de segunda-feira que vejo pessoas saindo rumo ao trabalho, sinto um cansaço e uma melancolia, de pensar na condenação de ter que trabalhar e driblar o sono por tantos dias na vida, para depois, morrer, simplesmente. As manhãs e tardes ensolaradas me ferem a visão, não gosto do dia, adoro a noite, tenho paixão ainda inflamada por ela, tenho vivacidade com ela, e não gosto de rodas de mulheres falando de enxovais, gosto de conversas descontraídas e não reprimidas. O pior é saber que vivemos nos desgastando para depois morrer, e pior, saber que a morte pode estar no próximo momento, na próxima quadra ou na próxima madrugada. Não que eu tema morrer, aliás, tenho até certa curiosidade de saber se existe o além morte, mas ainda me preocupo com aqueles que dependem de mim, e sei que ainda não fiz tudo que é necessário por eles, fora que se for para morrer que eu descubra um pouco mais a vida. Outros fatores que fazem minha mente cansar, é a leviandade das pessoas, o machismo e a incoerência em geral. Os homens continuam machistas, teístas ou ateístas, ignorantes ou (pseudo) intelectualizados, heterossexuais ou homossexuais, pobres ou ricos. Um dos mais tradicionais exemplos é o fato de demonizar o objeto de desejo, como se eu comesse camarão, coisa que adoro, e após a refeição dissesse que camarão é nojento, barato e nocivo. Eu comecei a questionar esse fato desde o início da adolescência, antes de saber o que era o sentido de ser macho e a origem desse comportamento. Hoje vejo homens que já passaram dos quarenta anos, agindo como garotos maledicentes, e outros não admitindo essa reflexão, ficando inconformados e acusando meu pensamento de feminismo exacerbado. Como hominídeos "racionais" deveriam melhorar, pelo menos após o tão esperado século XX. Outro fato que me abala muito, é aquele indivíduo simpático com todos, principalmente nos primeiros contatos, mas que depois não esconde sua face leviana, manipuladora, megalomaníaca e mentirosa, isso assusta quando acontece rapidamente, porque quando demora, apenas revela a essência humana, perigosa e predadora. 
    A mentira é um recurso usado pela maioria das pessoas, ou todas creio eu, e é aceitável porque precisamos dela de vez em quando, precisamos lançar mão dessa estratégia para evitar situações adversas, constrangedoras e alguns problemas maiores de natureza variada, não serei hipócrita de negá-la, todavia, existem pessoas que mentem após ter feito ou falado o ato perante você, e agem como se você fosse um(a) idiota sem memória. Ouço, ouvimos, ouviremos mentiras todos os dias, mas tudo em demasia cansa e é maléfico, então, tomemos cuidado com as nossas e as dos outros.
Talvez minha profissão esteja contribuindo para o desgosto de minha vida semanal, aliás, lecionar é um trabalho que muitas vezes lhe obriga a brigar para poder executá-lo satisfatoriamente, isso é ridículo, eu sei, pois você oferece um serviço para quem ainda não o deseja, e isso começou me matar aos poucos, ao mesmo tempo que me fornece condições que preciso, e por isso me mantenho nela. Mas sobre a nocividade desse trabalho, você não me ajudará recomendando que eu tente seguir a regra do "não ligue" porque não é possível, e dessa forma você se entregaria à negligência descarada, prejudicando alguns poucos indivíduos inocentes, e acabando com minha pouca decência, dignidade e objetivos. Uma das ocorrências que mais me consomem, é ser questionada quando uso nomenclatura adequada, sendo que meu objetivo é mostrar palavras e termos adequados e enriquecer o vocabulário alheio, e mais irritante ainda é quando o indivíduo reclama, dizendo preferir nomenclatura comum, vulgar, fácil. É uma desinteligência que me surpreende sempre e daquelas que não seguro a ira e me exalto com furor. Não negarei que também tenho bons momentos, alguns ótimos aliás, como conhecer jovens que são especiais e se tornam queridos e amigos, e até colegas maravilhosos, desde a tia da faxina até o professor de uma área bem diferente da sua, fato que é o que sempre me acontece. Eu escolhi fazer uma das coisas que desejei, mas não sei se isso é a tal da realização, talvez eu ainda precise de alguns anos para elaborar essa conclusão. 
    Outro fato que incomoda e é também curioso, é a famosa inveja, sentimento que parece ser mais comum na adolescência e que penso que quando perdura na idade adulta, me parece um importante desvio de caráter, mas sentir inveja tem fundamento e é até compreensível, entendo que se dá no desejo do objeto ou condição alheia, que deve ser muito melhor do que a do sofredor da inveja, contudo, o que me incomoda, são as pessoas que querem ser invejadas, e se declaram constantemente vítimas da inveja, e principalmente após o fenômeno das redes sociais, esses indivíduos iludidos têm brotado a cada página. A princípio é até cômico, mas depois fica enjoativo e até ofensivo, pois o criador da mania muitas vezes está redondamente enganado, e um indireta é como uma granada, atinge a todos, pois todos são passíveis e ali estão. Tudo isso somado as mazelas diárias e mundiais e o desgaste da maternidade, me mata aos poucos. Hoje consigo interpretar uma frase que eu lia quando criança: "ser mãe é padecer no paraíso", lembro de ter lido em uma revistinha da "Turma da Mônica", e passei a vida com isso na mente, e realmente hoje tenho padecido a cada dia, a cada momento que preciso interromper o sono alheio, me desgastar ordenando às tarefas de ordem e higiene e ouvir descontentamentos e rebeldias, além de não poder estudar mais e fazer outras atividades que poderiam melhorar nossas próprias qualidades de vida. Espero que ao menos a tarefa de criar, me traga um bom fruto que me faça ter contentamento pela vida. Desse campo conclui que gerar uma vida é deslumbrante biologicamente, mas é como lhe desbastar um membro por um bom tempo.
Este é o mundo do sofrimento, mesclado de momentos agradáveis e de muitas mentiras, o mundo onde ouvimos que viver é bom, que Deus é pai e quer o melhor para você, e que ventos melhores virão, mas sabemos que a cada ano que passa aumenta a chance de surgir um câncer, um enfarto, demência, fraqueza mental e corporal, e de diminuir a memória, a paciência, a vitalidade e pior, a beleza, e assim sobrevivo, passando por náuseas, decepções e dores, e esperando por um acontecimento que possa modificar minha vida. 
    Enquanto isso concluo que a maior parcela da tal felicidade é química, ou melhor, bioquímica. Pessoas que insistem em mostrar seus dentes em sorrisos planejados e forçados se enganam, e são fracas de caráter, pois  precisam divulgar que estão felizes, não sabem que momentos felizes são naturais e se são legítimos  não lhe dão subsídio para usar isso como armadura, como aquelas pessoas do tipo: "eu sou feliz e você não é, sou melhor que você e você me inveja", essas são as que mais temo ao meu redor, mas aprendi muito com elas, a ser cautelosa, natural e genuína, pois agradar também cansa, e eu gosto de sorrir e dar risadas, mas com autenticidade, assim minha vida social e amorosa ficaram bastante detalhadas pela necessidade de joeirar, pois gosto de estar a vontade, e isso não dá para viver quando estamos sempre cercados de gente, assim, prefiro a companhia dos meus felinos, e poder relaxar meu corpo que anda muito mais exigente do que antes. E de uma parcela dessas mesmas pessoas que pregam a falsa felicidade, muitas são as que discriminam as pessoas, ou seja, o ser humano desenvolveu intelecto, mas não retirou corretamente as aparas da incoerência. 

Luciana Rebello





Um comentário:

  1. Viver, deveria ser de uma simplicidade só. Mas o homem vive a dificultar sua própria vivência.

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